"Blogue direccionado a hedonistas, plebeus, diletantes, pedantes, mongolóides, escroques, pulhas, girondinos, jacobinos, pretensiosos, aristocratas, afectados, presunçosos, humildes, demagogos, medíocres e tudo!" - Bernardo Diniz de Alcoforado in "Noel Bouton de Chamilly já não mora aqui"

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sob a Égide da Cruz



Há uns anos, uma amiga dinamarquesa interrogou-me: "Mas porque é que vocês pedem desculpa por tudo?!"

Estava a referir-se ao facto de, sempre que interpelamos alguém, seja na rua, num bar, restaurante, local de trabalho, onde quer que seja, substituirmos o "se faz favor" por "desculpe".

Ela não concebia, na sua educação norteada (literalmente) pelo pragmatismo daquela zona da Europa, que sempre que fizéssemos algo tivéssemos de pedir desculpa pelo acto. Se pedirmos uma bebida num bar não temos de pedir desculpa, o barman está apenas a fazer o seu trabalho, dizia ela.

Tal questão fez-me pensar. Desculpar é retirar a culpa que temos dentro de nós, por algo que fizemos ou dissemos. Portanto, pedir desculpas é rogar a alguém que nos cesse esse sentimento.

Ora, isto é algo profundamente católico: o pecado, a culpa, a penitência, o perdão, a indulgência, a absolvição. Sem querermos somos imbuídos neste espírito desde pequenos. A nossa cultura, profundamente católica, cria-nos estas raízes, cristaliza-nos o pensamento neste sentido e consequente verbalização da culpa constante. Mesmo quando apenas queremos que nos sirvam, como é seu mister.

Eu não interrompo ninguém, não faço qualquer má-acção, não insulto ninguém e, ainda assim, peço desculpa. Se fossemos mais longe nesta análise poderíamos dizer que muito do mal deste país está neste pensamento.

Este sentimento permanente de culpa,de que nem sequer nos apercebemos, está dentro de todos nós e apenas nós o podemos contrariar. Pedir uma vodka laranja não é pecado, pecado é não bebê-la!

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