"Blogue direccionado a hedonistas, plebeus, diletantes, pedantes, mongolóides, escroques, pulhas, girondinos, jacobinos, pretensiosos, aristocratas, afectados, presunçosos, humildes, demagogos, medíocres e tudo!" - Bernardo Diniz de Alcoforado in "Noel Bouton de Chamilly já não mora aqui"

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Duque de Viseu e Senhor da Covilhã


















Este país tem o terrível hábito de se agarrar ao passado. Exaspera-me o persistente recordar do passado, de feitos ancestrais nos quais teimamos reclamar o nosso cunho. Achamos que salientar algo que de glorioso foi feito no passado nos dá a nós um pouco dessa aura. O facto de comungarmos do mesmo território e de alguma genética com seres que por aqui se passearam há 500 anos é motivo de orgulho nacional.

Sou dum povo que descobriu o mundo, que deu mundos ao mundo. Não, desculpa, mas não és. Quanto muito o povo da altura é que descobriu o mundo e tu não fazias parte dele, nem planeado estavas sequer. Se já é de mau tom um povo inteiro reclamar para si o feito de alguns que, na sua época, por esta ou por aquela razão, foram superiores ou tiveram a oportunidade de o ser; pior é passados quinhentos anos. Minha gente, quinhentos anos não é brincadeira, é muito tempo, dá para muita misturada...

Não, nós decididamente não pertencemos ao povo que iniciou a globalização (como tanto nos gostam fazer crer os nossos docentes). Esse povo era outro. Não era eu, nem tu, nem nenhum dos que está cá hoje. Por uma simples razão, ninguém vive tanto tempo.

Eu respeito a herança cultural dum povo. Mas desrespeito o abuso dessa herança. Aliás, a reiterada memória dessa longínqua época somente significa uma coisa, nada mais este valoroso povo fez, passámos 500 anos sem nada fazer. Brilhante. E como continuamos sem nada fazer limitamo-nos a recordar a época dos Descobrimentos e a festejá-la cada vez que assentamos uns tijolos e cimento.

Faz-se uma Exposição do Mundo Português, espetam-se um padrão dos Descobrimentos e uma rosa-dos-ventos com os "mundos que demos ao mundo". Cinquenta e poucos anos mais tarde fazemos uma Exposição Universal, qual será o tema? Calma, tenho um bem original, e se o tema fosse os oceanos, o nosso povo, tão ligado à descoberta marítima, merece essa homenagem. Podemos também construir uma ponte gigante e a torre mais alta do país e denominamo-las Vasco da Gama. Já agora se se construir um centro comercial ali por perto podemos também dedicá-lo ao Vasco porque consta que ele adorava comprar álbuns de música erudita na Fnac e de se passear na H&M, onde (registos recentes provam-no) comprou o barrete com que costuma aparecer nas telas. E uma estrada no Algarve, que tal apelidá-la de Via do Infante de Sagres? Se fizermos um hino podemos ter como primeiro verso algo relativo ao mar e aos nossos heróis que por ele navegaram. Também acho que  só nos ficava bem, se construíssemos um Freeport, que este tivesse uma fachada a fazer lembrar as intrépidas caravelas portuguesas.

Ideias não me faltam e gostaria de me prolongar com elas. Felizmente, Portugal e a sua magnânima história são tão pródigos em actos e feitos tão ilustres que pouco espaço resta para honrar os nosso heróis marítimos e suas hercúleas tarefas.

Por hoje é tudo, vou para a Ribeira das Naus ler excertos d' "Os Lusíadas".

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